César Morán: “Parroquias tour” e saúde emocional

MÚSICA AMBULANTE PARA O POVO

César Morán: Cantautor, compositor e escritor

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Celebrou-se por quarta vez em Mondonhedo o festival de música de câmara MindoMúsica, que a violinista Rebeca Maseda organiza com todo o primor, convertendo-se ela mesma em gestora cultural, a cujo labor dedica boa parte do tempo durante o ano, sem desatender a sua atividade sinfónica e tantos trabalhos simultâneos. Cada ano vai introduzindo em MindoMúsica parladoiros, mesas redondas e palestras dialogadas que dinamizam a cidade e convidam aos concertos dos últimos dias, e entre tais eventos está o maravilhoso “Parroquias Tour” onde esta vez tivem a honra de participar com ela com o nosso duo EnClave Poético. Gratíssimo portanto a Rebeca por me ter em conta e considerar que essa forma de interpretar textos poéticos com a minha música e o seu virtuosismo interpretativo está próximo do que se entende por “música de câmara”.

Quando se experimenta algo grande e reparador, sempre queremos transmiti-lo e fazer partícipes às persoas que nos rodeam, e isso é o que agora me acontece. A experiência foi única e difícil de descrever com palavras. Seis concertos em menos de dous dias, que inicialmente iam ser de quinze ou vinte minutos mas acabaram sendo de uma hora, com diferente público e diferentes espaços, através dos quais pudem conhecer a enorme estensão rural do concelho de Mondonhedo, entre bosques, subidas e descidas, em centros sociais que foram a antiga escola unitária, e com desigual número de assistentes e idades. Chegar à antiga escola do Carmen ainda na manhã, com a névoa nos prados, sem que impedisse enxergar as torres da catedral na distância, e um público sentado no que poderiam ser os assentos dos escolares de outrora. Começar a ascender ao Estelo por uma estrada inédita, as árvores autóctonas, e de repente um passo canadense e os cavalos selvagens à direita. Toda humilde beleza. Mentres os informativos falam da onda de calor na península, a névoa já está sobre nós e aparece no alto uma ermida e como uma cabana suíça onde damos o concerto. Pouquinha gente –tampouco há muita mais nos arredores–, entre eles um neno sabe que Casals tocava um cello, e a mais nova, de nome Ária, tem dous anos e nasceu em pandemia.

De Estelo a Oirán, também na antiga escola, a gente já está à espera, amigos como Moncho Reimunde que atalhou polo monte, ou Pepe de Noriega ou gente da política municipal. Magnífico o encontro, e dalá a Viloalhe, a estrear o novo espaço ainda sem luz elétrica, a uns metros da turbina pioneira em dar luz a Mondonhedo, a segunda cidade de Galiza, em 1893. Gente conhecida como Luís F. Ansede ou Mónica Barreira. Ao remate falamos com uns aragoneses e uns castelhanos com autocaravana, e estão felizes da névoa, da música e da humidade. E fica para o dia seguinte a parte mais emotiva: actuar na residência de persoas idosas e no Hospital de São Paulo, agora centro assistencial. Diego está à minha esquerda. Não pode falar, mas o seu sorriso e a sua face expressiva ficam para sempre.


Ártigo publicado en (Sermos Galiza, nº 613. Nós Diario, sábado 6-08-2022)


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