César Moran: “Per Sant Joan”

II EDICIÓN COCHES CLÁSICOS NO IRIXO

O QUE A MÚSICA E A LETRA PODEM DAR

César Morán: Cantautor, compositor e escritor

XUNTANZA DE CLÁSICOS NO IRIXO

Se as leitoras e leitores já sabiam o que vou contar, pedirei que me desculpem, mas o estado emocional em que passei os últimos dias justifica as linhas que aqui seguem. Foi uns dias antes do solstício de verão quando num programa de rádio soou uma bela canção na voz de Joan Manuel Serrat que dizia: “Un vespre quan l’estiu obria els ulls / per aquells carrers on tu i jo ens hem fet grans, / on vam aprendre a córrer, / damunt un pam de sorra / s’alçava una foguera per Sant Joan”. Fiquei impressionado, não porque Serrat poetizasse sobre a noite de São João, o que já víramos em “Fiesta” (1970). A cousa estava na música, a mesma que conhecíamos de Juan & Junior (“En San Juan”) e que tínhamos cantado tempo atrás. E tendo o insigne cantautor no mais alto das minhas referências, era estranho que ignorasse este episódio, que a tal canção nunca lha ouvisse nos concertos nem reparasse nela na sua discografia.

Urgia uma consulta nos livros e nas redes, e de início semelhava que fora primeiro a canção de Serrat, ainda que os diferentes contextos dos artistas o fazia pouco provável, o mesmo que à inversa. Porém, os dados indicam que a canção “En San Juan”, original de Antonio Morales e Juan Pardo, foi versionada por Joan Manuel Serrat, mantendo a integridade da sua música e com o arranjo de Ricard Miralles, o qual é bem significativo, pois, como indica Luis García Gil em Serrat, canción a canción (2004), era a primeira vez que o músico colaborava com Serrat, o que, salvando o lapso de uns pouquinhos anos, se mantivo até os últimos concertos, Miralles como pianista, arranjador e diretor musical.

Todo acontece em 1968, mas a letra de Serrat não é uma tradução ao catalão, senão que o artista escreve uma letra totalmente nova que nada tem a ver com a castelhana. “El noi del Poble Sec”, que na altura tem apenas vinte e quatro anos, recria a noite do fogo purificador e viaja no tempo aos seus anos de rapaz na busca de madeira e móveis velhos para queimar e fazer a maior das cacharelas: “Doneu-me un tros de fusta per cremar / o la prendré d’on pugui, com ahir, / com si no n’hi hagués d’altra. / Jo he sigut com vosaltres. / No vull sentir-me vell aquesta nit”.

Esta versão serratiana apresentou-se em setembro de 1968 ao “I Festival de la Canción de Barcelona”, interpretada por uma novíssima Glòria e por Bruno Lomas. Ficou em terceiro lugar, e tanto ela como ele gravaram-na em respectivos discos com diferente arranjo. Parece que foi nesse verão que Juan & Junior lançaram a sua canção no seu quinto single “Tiempo de amor” / “En San Juan” (Novola), e do mesmo ano é o single de Joan Manuel “Per Sant Joan” / “Marta” (Edigsa), em cujos créditos consta a sua autoria na letra, a de J. Pardo e A. Morales na música e a de Ricard Miralles no arranjo. Todo nesse ano, 1968, como o episódio de Eurovisão quando o “Nano” finalmente não foi por querer cantar em catalão. Também foi o do “Maio” francês, e da Primavera de Praga.

(Artigo publicado no número 562 de Sermos Galiza, suplemento semanal de Nós Diario, sábado 15 de julho de 2023



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