César Morán: “O último livro de Dylan”

II EDICIÓN COCHES CLÁSICOS NO IRIXO

A ESCOLHA DO CANTOR

XUNTANZA DE CLÁSICOS NO IRIXO

César Morán: Cantautor, compositor e escritor

Um dos presentes de Reis foi este livro, A filosofia da canção moderna, na edição portuguesa de Relógio d’Água, fevereiro de 2023, tradução e notas de Pedro Serrano e Angelina Barbosa sobre o original The Philosophy of Modern Song (2022) de Bob Dylan. Bela edição cuidada, com mais de um cento de fotografias de alta qualidade, no que vem a ser o primeiro livro do cantautor americano após o Prémio Nobel da Literatura e 18 anos depois de publicar o Volume I das suas memórias ou Chronicles. Na capa aparecem Little Richard, Alis Lesley e Eddie Cochran em 1957, o primeiro que entra polos olhos antes de penetrar nas 364 páginas de texto e imagem.

Para o leitor interessado, a primeira surpresa está na temática mesma. Quem espere textos de Dylan, nada disso achará. Trata-se de 66 canções que o autor escolhe e comenta à sua maneira, no que se pode considerar ensaio ou mais bem paráfrase alongada e elucubração persoal. De facto, o título é um pouco falso, pois mais que expor uma filosofia da canção moderna, o que faz Dylan é “filosofar” sobre temas vários tomando como pretexto as canções escolhidas. E algo semelhante podíamos dizer das fotos, que mantêm uma por vezes vaga relação com as canções, autores e intérpretes.

No entanto, parece-nos ver o Dylan mais tópico, esse que entra no palco nos concertos com amplo chapeu e sem olhar o público, nem quando procede a percutir no tecladinho elétrico. Aqui também não se digna em saudar as/os leitoras/es num proémio que não existe, havendo apenas um obrigado “ao meu companheiro de pesca Eddie Gorodetsky” polas contribuições e material original e algum outro agradecimento, e sem mais vem o índice e o capítulo 1.

Obra interessante para a digerir de forma ideal ouvindo cada canção antes ou durante a leitura. Dylan, quando quer, é rigoroso e documentado, mas a estrutura um tanto irregular em cada caso costuma ter duas partes: na primeira escreve sobre a letra da canção, em paráfrase livre, e na segunda sobre o contexto, de como se gravou ou da sua própria visão do mundo. Aliás, as canções elegidas pouco têm a ver com a nossa ideia de Dylan, e as mais correspondem aos seus anos moços, polos anos 50 e 60, só quatro interpretadas por mulheres e quase todas norteamericanas, salvo alguma como o Volare (Nel blu, dipinto di blu) de Domenico Modugno, que considera “uma das primeiras canções alucinógenas”.

Eu ficaria com My Generation (The Who), Mack the Knife (Bobby Darin), também por Bobby Darin Beyond the Sea –no início uma canção francesa de Charles Trenet–, On the Road Again (Willie Nelson) –sobre o icónico On the Road, de Jack Kerouac–, I Got a Woman (Ray Charles), Blue Bayou (Roy Orbison), Blue Moon (Dean Martin) –“uma melodia vinda directa de Debussy”–, Black Magic Woman (Santana), Don’t Let Me Be Misunderstood (Nina Simone) –onde joga com L’étranger de Camus– ou Waist Deep in The Big Muddy (Pete Seeger).

Evitamos frases do autor, um pouco demodé em feminismo, etc. Será a borbulha…

Publicado no número 592 de Sermos Galiza, o suplemento semanal de Nós Diario, sábado 10-02-2024.



Outros artigos de César Morán :

César Morán: “As cores do son”

César Morán: “Hannover 20-4-70”

César Morán: “Arrión”

César Moran: “Os Quadros de MussorgskY”

César Moran: “Dual Bettor”

César Moran: “Per Sant Joan”

César Moran: “Música em Luísa Villalta”

César Morán: “Roger Waters”

César Morán: “Canet Rock 75”

César Morán: “Os esquecidos setenta”

Falar de Música

César Morán: “Pablo e Silvio, os dous “

César Morán: “O Bombardino de Charles Anne. O músico de Cunqueiro “

César Morán: “Compopstela, de Alfonso Espiño Louro “

César Morán: “Cantar nun concerto”

César Morán: “Parroquias tour” e saúde emocional

A opinión de César Morán: “A espera de Serrat”

A opinión de César Morán: “O mais parecido ao karaoke”

A opinión de César Morán: “Anacleto músico”

A Música da Fala

Tanxugueiras

Música ” Comercial “

Memória do Zeca

A Beleza

O clarinete de Aquilino

A Música desde o Público

Passar, verbo (in)transitivo. De Mirasol a Vinicius

FRANCO BATTIATO: popular e experimental, na busca do transcendente

Xela Arias. História de uma foto.

Cunqueiro e os Pentagramas

A presença da música ao vivo

Na taberna cultural da Arca da Noe

A Música em estado crítico

O Idioma da Música: A Língua do canto

A minha viagem com Dámaso Alonso